Friday, January 28, 2005

please

So you never knew love until you crossed the line of grace
And you never felt wanted till you had someone slap your face
So you never felt alive until you almost wasted away
You had to win
You couldn't just pass
The smartest ass
At the top of the class
Your flying colours
Your family tree
And all your lessons in history
Please... please... please get up off your knees...
Please... please... leave me out of this
Please
So you never knew how long you'd stoop to make that call
And you never knew what was on the ground till they made you crawl
So you never knew that the heaven you keep you stole
Your catholic blues
Your convent shoes
Your stick on tattoos
Now they're making the news
Your holy war
Your northern star
Your sermon on the mount
From the boot of your car
Please...please... please get up off your knees
Please...please... leave me out of this please
So love is hard and love is tough
But love is not what you're thinking of
September... streets capsizing...
spilling over down the drain ...shards of glass splinters like rain
But you could only feel your own pain...
october... talking getting nowhere...
November... December... remember... are we just starting again...?
So love is big bigger than us
But love is not what you're thinking of
It's what lovers deal it's what lovers steal
You know i've found it hard to receive
Cause you my love I could never believe

subtilezas

estava agora a ler um post da minha coligação maravilha (www.castlesintheair.blogspot.com) e lembrei-me de falar de subtilezas. admito que detesto falar de mim. pelo menos de qualquer coisa que seja pessoal. but then again, o que não é pessoal não me diz muito. contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que sabem como sou. e o que eu adoro nelas é a subtileza. o facto de perceberem pequenas coisas sem que eu as diga. olham-me e sabem. detesto ter de explicar tudo. detesto ter de "fazer desenhos". adoro meias palavras, dar pistas. e elas percebem. percebem quando sorrir é de facto sorrir. percebem quando sim quer dizer não. percebem que eu não choro. e estão lá. não dizem as palavras certas porque sabem que eu não preciso delas. sabem que o que importa é a presença. sabem que o estar lá means the world to me.

Wednesday, January 26, 2005

suicídio

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta?
Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...
A mágoa dos outros?...
Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...
Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...
Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido?
O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...


continuo a revistar primeiros contactos com fernando pessoa, com álvaro de campos, o meu primeiro e eterno amor dentro de todos os heterónimos. é giro ver como cresci. como o que me diz este poema hoje não tem nada a ver com o que me dizia aos 15 anos. continuo a achá-lo brilhante in a dark sort of way. mas já não é pessoal.

Monday, January 24, 2005

lembranças

TABACARIA

Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é(E se soubessem quem é, o que saberiam?),Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,E não tivesse mais irmandade com as coisasSenão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da ruaA fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitadaDe dentro da minha cabeça,E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.Estou hoje dividido entre a lealdade que devoÀ Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.A aprendizagem que me deram,Desci dela pela janela das traseiras da casa.Fui até ao campo com grandes propósitos.Mas lá encontrei só ervas e árvores,E quando havia gente era igual à outra.Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!Gênio? Neste momentoCem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,E a história não marcará, quem sabe?, nem um,Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.Não, não creio em mim.Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundoNão estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,E quem sabe se realizáveis,Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?O mundo é para quem nasce para o conquistarE não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;Serei sempre o que não nasceu para isso;Serei sempre só o que tinha qualidades;Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,E ouviu a voz de Deus num poço tapado.Crer em mim? Não, nem em nada.Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardenteO seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.Escravos cardíacos das estrelas,Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;Mas acordamos e ele é opaco,Levantamo-nos e ele é alheio,Saímos de casa e ele é a terra inteira,Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;Come chocolates!Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.Come, pequena suja, come!Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca sereiA caligrafia rápida destes versos,Pórtico partido para o Impossível.Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,Nobre ao menos no gesto largo com que atiroA roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!Meu coração é um balde despejado.Como os que invocam espíritos invocam espíritos invocoA mim mesmo e não encontro nada.Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,Vejo os cães que também existem,E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o raboE que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soubeE o que podia fazer de mim não o fiz.O dominó que vesti era errado.Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.Quando quis tirar a máscara,Estava pegada à cara.Quando a tirei e me vi ao espelho,Já tinha envelhecido.Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.Deitei fora a máscara e dormi no vestiárioComo um cão tolerado pela gerênciaPor ser inofensivoE vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,Calcando aos pés a consciência de estar existindo,Como um tapete em que um bêbado tropeçaOu um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltadaE com o desconforto da alma mal-entendendo.Ele morrerá e eu morrerei.Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,E a língua em que foram escritos os versos.Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como genteContinuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,Sempre uma coisa tão inútil como a outra,Sempre o impossível tão estúpido como o real,Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.Semiergo-me enérgico, convencido, humano,E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-losE saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.Sigo o fumo como uma rota própria,E gozo, num momento sensitivo e competente,A libertação de todas as especulaçõesE a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeiraE continuo fumando.Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeiraTalvez fosse feliz.)Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universoReconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

quando descpbri fernando pessoa, este era dos meus poemas favoritos. pode-se dizer que ainda o é.

ricardo reis em pessoa

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre!
Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.


Ricardo Reis

(aproveitem o link!)

just be yourself

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

little things

God knows how I adore life
When the wind turns on the shores lies another day
I cannot ask for more
When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine
And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime
Oh mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime
When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine
And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime
Mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime

Mysteries - Beth Gibbons

já pararam para reparar na beleza das pequenas coisas?

Friday, January 21, 2005

LOOPINGS

Tu sabes porque é que és o tópico de hoje. ******

Tuesday, January 18, 2005

solidão

"I have never found a companion that was so companionable as solitude. We are for the most part more lonely when we go abroad among men than when we stay in our chambers. A man thinking or working is always alone, let him be where he will."

Henry David Thoreau

Porquê achar que a solidão é algo que escondemos? Pode ser exactamente o que procuramos. a nossa companhia. aprender a ouvir-nos de novo.

guess...

de que filme...

"It was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it, right? And this bag was like, dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. And that's the day I knew there was this entire life behind things, and... this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse. But it helps me remember... and I need to remember... Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in."

tempo

já alguma vez pararam para pensar no tempo? não no que faz lá fora. o tempo dos dias. aquele que continuamente é desperdiçado nas nossas mãos. em época de exames é só o que me vem à cabeça, tantas horas desperdiçadas. horas em que a música ou os filmes acabam por não ter lugar. e isso para mim é o pior. não o facto de estar a ler coisas que sei nunca me servirão de nada mas o perder tempo para mim. sou daquelas que preza fazer aquilo que realmente gosta. por isso não vejo muito sentido na expressão "tempo livre". o meu tempo livre está sempre ocupado, nem que seja a pensar no que vou fazer, a olhar para os meus botões, a ouvir o meu discman ou a ver o dancer in the dark. estes são os meus melhores momentos. por isso não vejo muito sentido em subestimá-los ao apelidá-los de tempo livre.

Thursday, January 13, 2005

truques da imaginação

fui ver finding neverland. saí de lá completamente envolvida na história, nas palavras, nos cenários, na forma que encontraram para dizer tudo de uma forma tão natural. e sobretudo saí de lá com a crença irritante de que as pessoas sobrestimam a fantasia. completamente. ouvem-se comentários como "é um filme engraçado para putos" ou "para quem gosta da história do peter pan, até é engraçado". people completely miss the point. o filme tem tudo. e a beleza consiste precisamente em mostrar tudo (ainda que subtilmente) de uma forma simples. truques da vida e da morte escondem-se e revelam-se. o amor está presente em cada discurso. vejam! vale a pena.

Wednesday, January 12, 2005

e quando já não resta nada?

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus."

Eugénio de Andrade - Adeus

é assustador quando já não há nada a dizer... quando as palavras se tornam banais. quando o que deveria ter sido dito se perde no caminho dos medos e angústias e deixa de ser o que é.

Monday, January 10, 2005

Momentos perdidos

"A nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade... Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria... E assim como ela era duas - de realidade que era, a ilusão - assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo bem se o outro não ele próprio, se o incerto outro viveria... Quando emergíamos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a querer soluçar... Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados, cheios do tédio inúmero de ser... Cheios, sim, do tédio de ser, de ter de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão - e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto... E que fresco e feliz horror o de não haver ali ninguém! Nem nós, que por ali íamos, ali estávamos... Porque nós não éramos ninguém. Nem mesmo éramos coisa alguma... Não tínhamos vida que a Morte precisasse para matar. Éramos tão ténues e rasteirinhos que o vento do decorrer nos deixara inúteis e a hora passava por nós acariciando-nos como uma brisa pelo cimo duma palmeira. Não tínhamos época nem propósito. Toda a finalidade das coisas e dos seres ficara-nos à porta daquele paraíso de ausência. Imobilizara-se, para nos sentir senti-la, a alma rugosa dos troncos, a alma estendida das folhas, a alma núbil das flores, a alma vergada dos frutos... E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparámos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser... Zumbe uma mosca, incerta e mínima... Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que enchem de ser já dia a minha consciência do nosso quarto... Nosso quarto? Nosso de que dois, se eu estou sozinho? Não sei. Tudo se funde e só fica, fugindo, uma realidade-bruma em que a minha incerteza sossobra e o meu compreender-me, embalado de ópios, adormece... A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora... Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos sonhos... Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da vida, porque farta e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera. Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é. Não choremos, não odiemos, não desejemos... Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto da nossa Imperfeição..."

o meu livro preferido de todos os tempos do escritor mais brilhante que já li: o livro do desassossego de bernardo soares (não sei se referi no meu perfil que fernando pessoa é outras das minhas pancas!)

Saturday, January 08, 2005

new years' resolution

"So much stays unknown till the time has come.
Did you imagine you could ever be so strong,
Then watch your fear just turn into relief?
Your sea of doubt become your own belief?
Though tears don't come to cry some grief away,
The tears will help to keep your need at bay.
So come on now, come on now, child.
You're here just a while.
Come on now, come on now, child.
You're here just a while.
A mother told me just before she died -(mmmm)
My mother told me just before she died, (mmmm)
"Oh darling, darling, don't you be like me.
You will fall in love with the very first man you meet."
But mama, mama, some will never know;
The love that you have is still holding my soul.
So come on now, come on now, child.
You're here just a little while.
Come on now, come on now, child.
You're here just a while.
You're here just a while... Here just a while....
So much stays unknown till the time you are strong.
Did you imagine you could ever feel so strong,
And all your pain just turns into relief? (mmmm)
All your doubt becomes your own belief? (mmmm)
Though tears don't come to cry some grief away,
The years will help to keep your need at bay.
So come on now, come on now, child.
You're here just a while.
Come on now, come on now, child.
You're here just a while.
So come on now, come on now, child.
You're here just a while.
Come on now, come on now, child.
You're here just a while.
You're here just a while.... Here just a while....
You're here just a while
You might as well smile,
You might as well smile,
'Cause tomorrow, you just don't know.
It will pass. It's gonna pass.
It will pass in time. It will pass in time.
It will pass. It will pass in time. It will pass in time. It will pass.
It's gonna pass It's gonna passIt's gonna pass in time.
It will pass in timeIt will pass. It's gonna pass...
It will pass in time. It's gonna pass
It's gonna pass"

Everything passes in time. we might as well enjoy the ride.
Bom 2005!

vícios

às vezes páro para pensar nos pequenos vícios que tenho. são tantos... aterroriza-me a ideia de que um dia alguém os conheça a todos! tenho vícios ditos comuns como o meu amigo inseparável português (ou português suave - para evitar mal-entendidos). mas depois tenho aquelas pequenas coisas que só convivências de 24 horas non stop revelariam. é estranho porque normalmente é pelos vícios que acabo por gostar das pessoas. pelas pequenas coisas que as distinguem do resto da multidão. lembrei-me agora do filme "good will hunting - o bom rebelde" e de uma deixa do robin williams. ele diz exactamente que eram precisamente os pequenos vícios e defeitos da mulher que definiam a intimidade deles. não o que toda a gente vê. não uns olhos azuis, um sorriso bonito ou uma atitude fantástica. mas as pequenas coisas que afastam, às quais se associa o rótulo de "irritantes" ou até "insuportáveis". mas é nestas coisas que as pessoas realmente se revelam, sem máscaras. para mim, conhecer esses detalhes é um privilégio. really!

Música

tenho uma paixão irremediável por música... boa música.

"on my way up northup on the ventura
i pulled back the hood and i was talking to you
and i knew then it would be a life long thing
but i didn't know that we we could break a silver lining
and i'm so sad like a good book
i can't put this day back
a sorta fairytale with you a sorta fairytale with you
things you said that day up on the 101 the girl had come undone
i tried to downplay itwith a bet about us
you said that-you'd take it as long as i could i could not erase it
and i'm so sad like a good book i can't put this day back
a sorta fairytale with you a sorta fairytale with you
and i ride along side and i rode along side
you then and i rode along side till you lost me there in the open road
and i rode along side till the honey spreaditself so thin
for me to break your bread for me to take your word
i had to steal it
and i'm so sad like a good book i can't put this day back
a sorta fairytale with you a sorta fairytale with you
i could pick back up whenever i feel down new mexico way
something about the open road i knew that he was looking for some indian blood
and find a little in you find a little in me
we may be on this road but we're just impostors in this country you know
so we go along and we said we'd fake it
feel better with oliver stone till i almost smacked him -seemed right that night and
i don't know what takes hold out there in the desert cold
these guys think they must try and just get over on us
and i'm so sad like a good book i can't put this day back
a sorta fairytale with you a sorta fairytale with you
and i was ridin' by ridin' along side for a while till you lost me
and i was ridin' byridin' along till you lost me till you lost me
in the rearview you lost me
i said way up north i took my day all in all was a pretty nice day
and i put the hood right back where you could taste heaven perfectly
feel out the summer breeze
didn't know when we'd be back
and i, i don't didn't think we'd end up like like this"

Thursday, January 06, 2005

this my friend is the end

se te amo ainda? sempre gostaste de perguntas difíceis... amo o que fui contigo. não sei se é a isso que chamam "amor egoísta". não era por me fazeres sentir bem (ambos sabemos que nunca foste capaz) mas por me fazeres sentir. e isso fazia-me diferente. não melhor. muitas vezes quis largar o jogo. nunca sabes realmente o que estás a conquistar. aquele espaço nunca é realmente teu. eu não fui eu, fui nós. e o tempo que criamos e aceitamos é tempo perdido. vestígios do que fomos dissolvem-se no passar das horas como se nunca tivessem sido reais. e a minha consciência de saber que estive ali dói. e sentir a dor é sentir. talvez te ame ainda. como amo a música, os filmes, a fotografia. como amo tudo aquilo porque rio e choro. há musicas que amo e não voltaria a ouvir. e se por acaso me assombram em sonhos, sei que já não ouço o mesmo. não posso ser o que fui. mas não deixo de as amar. talvez te ame ainda. não como amo a flor que acorda e adormece comigo todos os dias. esse é o amor hábito. e eu nunca me habituei a ter-te por perto. nunca quis. a convivência pode matar. transforma momentos em constâncias. há formas diferentes de amar. as lágrimas e risos que derramo com a flor são rotineiros. eu e tu sempre odiamos a rotina. o saber que estás por perto nunca foi para mim uma segurança. sempre foi um "se". foi isso que te fez intenso. por isso, sim, amo-te ainda mas não com intensidade. os "ses" perderam-se no caminho das exigências e dúvidas que criei. matei a intensidade com o cansaço.

biblioteca

estudar... haverá coisa mais ridícula que a época de exames? como se um mês de estudo concentrado diga alguma coisa sobre inteligência ou capacidade... will they ever learn?

Wednesday, January 05, 2005

today

just felt like writing... kind of guessing if this thing works