Wednesday, October 29, 2008

bengalas

Hoje foi quase impreterível abrir uma página em branco…

Já não me lembro de escrever.
(infelizmente não me lembro de escrever)

Há alturas de que não queremos ter memória.
Há momentos que queremos passar à frente.
Há dias que só salvaríamos se fizéssemos rewind.

Voltei aos mesmos erros de sempre (custa admitir!).

Há sempre defesas que nos servem.
Podemos disfarçar-nos de agressividade sem que ninguém note,
E passamos a assumi-la como a própria pele.

Não querer que a vida mude não significa que gostamos dela exactamente como está.
Na perspectiva de perder (perder não, mudar) largamos aos poucos o que ainda temos.

Não é que não seja suficiente, mas não é tudo.
(e eu sempre quis tudo)

Não me reconheço como romântica nem utópica.
Sei e sinto-me ambiciosa.
Em tudo.

E, por muito que receba, sinto sempre que dou muito mais.

Se continuar a insistir, a bengala parte (ouço diariamente a minha vozinha companheira de aviso…)

Se a bengala permanecer num canto do quarto, não apoia.

Se a atirar para longe, ela não volta (não é um boomerang).

Se a mantiver por perto, apetece parti-la.

Eu sei caminhar sozinha (repito, como o b-a-ba da primária, e, como na altura, sem atribuir significado).

Aqui ao lado já é longe.
A mudança assusta, quebra, dói, mói, e leva com ela o que tínhamos como certo.

Se vale a pena?
Na minha vida, sempre foi mais do que significativa.

Erasmus, Gaia, Ovar, o T0, o T1, os fins-de-semana de praia, Barcelona, Salamanca e Lisboa, The Cure, Aimee Mann, Clã, Sérgio Godinho, The Gift, dEUS, os italianos, os franceses e os alemães, a universidade, os amigos que ficaram, os que foram, os que criei de raiz, os que descobri, os que me apanharam e os que me deixaram fugir, as paixões, o coração desfeito…
Faz-me lembrar aquela canção da Bjork…

It’s oh so quiet
Until…

(you fall in love?)

Não se pode resumir tudo a uma questão, dúvida, certeza (?).

E a vida não é só isto.
Não pode ser só isto.

Cara amuada, fazer as pazes, gritar quando é preciso, berrar mesmo quando não é, bater e espernear, e depois sossegar.

Porque isto não é a vida, porque a vida não é só isto.

Se vai passar?
A vozinha repete que sim, eu afirmo que não.

Não por ser tudo, não por encerrar a vida.
Não.

Pura e simplesmente porque funciona.
E funciona assim.
Bengala ao lado, com a segurança de que sou eu quem decide quando a pousar ou atirar para longe.

Eu avisei: sou ambiciosa.