Come back...
Repito cores sem manual por companhia.
Não conheço outro que não a rotina.
Abro, suada do cansaço, páginas inúmeras em branco, sem lhes escolher chave.
Sigo o instinto.
Peco pela impulsividade.
E nunca soube ser criteriosa.
O pincel facilita a dança, os movimentos do corpo misturam-se com cores trabalhadas com um único propósito: inebriar a realidade.
Não sei por que pinto… escolhi-te a dedo em fotografias que decidi apagar.
A tinta cobriu as formas, ofuscou-te, roubou o que tinhas de teu e escreveu por cima, sem qualquer dose de mágoa.
Não sei onde te procurar.
Não posso exigir que me encontres.
Tardes de verão largadas ao vento, amores de praia enterram-se na areia.
Nós, urbanos e cinzentos, procuramos sobrevivência… E se a tinta se esgota?
Onde vais tu reconhecer-me se o meu corpo falhar?
A voz não é suficiente, o toque peca e larga, sem saber bem do que foge.
E o pincel, meu caro, é algo que seguro nos dedos enquanto não os cortas…
Saudades de mãos entrelaçadas, crentes no poder da luz que nos ofuscou e partiu a realidade.
A luz não descobre, apaga.
Os dedos suam de tanta agitação imperecível.
As páginas em branco são fáceis, agarram a tinta de novas e imaculadas.
Mas pecam de vazias…
As minhas mãos sobram de vazias.
E tu? Como reinventar-te se me esqueci de te guardar?
Riscos e traços atropelam-se sem ter onde nem porquê.
Ajo por impulso.
Sinto, logo faço.
A rede de consequências nunca quebrou as expectativas.
Mas esperar é pensar no futuro, e essa besta negra atropelaria a incondicionalidade do presente.
Posso trazer-te de volta?
Sem fé, meu amor, desta vez sem fé…