Friday, March 11, 2005

11 de Março

Há um ano estava a acordar... No sossego do meu quarto escuro nem um barulho se ouvia. Estava de janelas fechadas para a realidade. Em Vallecas, num prédio como qualquer outro. Juntem-lhe a peculariedade de estar a 5 minutos das três explosões em Atocha, El Pozo e Santa Eugenia. Ainda não sei que estive lá. Ainda não sei que era eu a rapariga que acordou com inúmeras chamadas não atendidas a gritar preocupação. Faz tudo parte de uma história que não quero reconhecer como minha. Não pelo destino da minha personagem... mas pelas centenas de passos que se perderam ali, a 500 metros dos meus. Pelas centenas de hábitos quotidianos que não se puderam repetir. Pelas centenas de vozes que se misturaram em destroços. Pelas centenas de vidas perdidas sem que os seus gritos ensurdecedores perturbassem o meu sono. Ainda não agradeci a greve na universidade. Ainda não agradeci termos decidido voltar para casa às 6 da manhã e não uma hora mais tarde. Ainda não agradeci a todos os que me telefonaram e desesperaram com o silêncio da minha voz. Porque não sei bem como agradecer. Ou por que agradecer. É real saber que foi tudo fruto do acaso. Que estou aqui não por mérito mas por coincidência. Hoje estou em Madrid. Voltei a 2004. Voltei ao meu quarto escuro. E penso nas palavras perdidas de quem ficou pelo 11 de Março.

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