Wednesday, November 08, 2006

Volver

Um filme sobre mulheres e o que as une. Relações fortes, intemporais e sobreviventes… à passagem do tempo, ao correr da vida, e até à sombra da morte. Duas mulheres surgem num vento quente e revoltado a florir a campa dos pais. Anos passados, sorriem já, resignadas à inevitabilidade da tragédia. Sorrisos tristes de quem se habituou à ideia de que a vida continua. Agarradas à segurança de que o amor venceu, ainda que alguns palmos abaixo da terra. Amor que deixou duas filhas, uma neta. Mulheres bonitas, fortes, confiantes, independentes, que agora caminham sozinhas. Aparentemente.
Ponto de partida: uma tia que se aproxima do fim numa aldeia repleta de memórias vividas e imaginadas. Uma morte que obriga a um regresso a cheiros e visões do passado. E no cenário de um funeral começa a verdadeira história. Uma lição de vida. Um conto de amor.
Almodôvar reaparece (e ainda bem que o faz), não no seu melhor, mas no seu olhar mais profundo das relações humanas. Temas recorrentes mantêm-se. O filme roça a pedofilia, o quase incesto, o homicídio. Os submundos estão presentes, ainda que de forma menos estruturada e menos assumida. Almodôvar é mais cauteloso aqui. As vidas retratadas são normais, a contrastar com a excentricidade gritante em A Má Educação e com a ambiguidade da ética e da moral em Fala com Ela. Seriam personagens comuns não fosse o toque de fantasia (bastante real, por sinal) que o realizador lhe imprime.
Uma história simples de ligações que não morrem e de mulheres que se (re)conhecem juntas. O final, ainda que precoce, reafirma a incondicionalidade do amor, traga o vento o que trouxer. A cena final, com as mulheres que revela e com a reafirmação do que as une, merecia mais trabalho. Há palavras que não devem ficar por dizer. Mas, mais importante do que isso (e Almodôvar não teve essa visão), nem tudo deve ser dito.

2 Comments:

At November 12, 2006 at 11:04:00 AM PST , Blogger La fille said...

e o meu filme preferido dele, embora admita q n e o seu melhor filme. e aquele q esta mais proximo da minha infancia. ao assistir a sequencia interminavel das tarefas domesticas, ve las lavar a loiça, falar com os filhis, ve las disfarçar as dores, olhar os seus sorrisos, ouvir as suas conversas, perceber as suas ansias pelo suspiro qdo a porta de entrada da casa se fecha. tudo isto faz parte do que incorporei. por isso e bom ve lo retratado... sem pretensoes, com as palavras q n devem ser ditas sem serem ditas.

 
At November 13, 2006 at 4:30:00 AM PST , Blogger eternal sunshine said...

o meu preferido é o fala com ela. acho-o a mais perfeita obra de arte. as cores, a banda sonora, os grandes planos, e um argumento que dói de tão realista e assustador... não consigo explicar. é o filme mais pessoal dele (para mim, claro). e acho que é aquele em que as subtilezas são conseguidas plenamente. mas, entenda-se, gostei imenso do volver. sobretudo o solo da penélope.. é envolvente. simplesmente não tomei o volver tanto como meu. como dizes, para ti ele é muito pessoal. traz-te imagens de infância. reconheço-lhe o mérito, mas não me envolvi verdadeiramente no filme. não me reconheci. não me identifiquei. é interessante como nos apropriamos de obras de outros e lhes atribuímos cunho pessoal. por isso digo muitas vezes que existem filmes meus (tu sabes quais...). outros, por mais perfeitos que sejam, não falam comigo. **

 

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