Tuesday, March 18, 2008

À Lena (at last)

Finalmente, a resposta à Lena (www.loopings.blogspot.com) e aos filmes que mudaram estranhamente a minha vida.

Before Sunset

Não consigo falar deste filme sem ocupar páginas e páginas mas vou tentar ser breve. É obviamente o primeiro da lista. Quem me conhece sabe porquê. Ainda assim, passo a explicar: o Before Sunrise foi o início, mas este é sem dúvida mais eu. Porque os diálogos são reais, porque há partes do Ethan Hawke e da Julie Delpy no Jesse e na Celine, porque eu sou Jesse e Celine alternadamente (mais Celine sempre e sobretudo de momento), porque há frases que definem a minha postura e filosofia de vida. Vivemos de ligações e de momentos. Só. E este filme deu o primeiro passo nessa aprendizagem. O que vale a pena fica. Quem se liga, fica ligado, independentemente da passagem do tempo, de outros braços, de outras camas, de alianças no dedo ou descendência. O filme grita simultaneamente “o amor não acrescenta nada” e “o amor define-nos”. A única incoerência que assumo em mim. A única que faz todo o sentido. “What does it mean the love of your life? If you think about it, the concept is absurd. The idea that you can only be complete with another person is evil”. Ainda assim, isto só vale a pena porque nos ligamos e porque perdemos e ganhamos, porque a vida pode ser sempre pior ou melhor. E isso é seguro. “I guess when you're young, you just believe there'll be many people with whom you'll connect. Later in life, you realize it only happens a few times.” Posso dizer que sou feliz porque já me aconteceu algumas vezes. Aconteceu ou acontece? As ligações não se perdem, ficam. E eu guardo-as todas, naquele baú do meu sótão que abro e revisito sempre que me apetece. Não pode ser todos os dias. Perde a piada.

La vita e bella

É mesmo preciso explicar? Saí com um nó na garganta do filme. Porque nos faz acreditar. Porque mexe com o bocadinho de magia que todos acreditamos haver por aí. Porque acho adorável a força de um pai que cria um mundo inventado por protecção. Porque admirei a força de um amor que assegura a sobrevivência. Acho que, sobretudo, porque um dia gostaria de poder ser assim só um bocadinho altruísta. Dar. Amar ao ponto de dar. Amar ao ponto de lutar. Amar ao ponto de me esquecer que existo, que sou eu. Passar a existir um “nós”. Ter força para superar tudo, ainda que me tirem o que me define. Deixar que outros me definam. Permitir-me mudar a vida alguém, alterar escolhas, trilhar caminhos. Mudar. Ser eu nos olhos de outros. E não me importar se sou eu ou eles. Porque eu sou eles. Acho que já disse isto antes, mas só acredito no amor egocêntrico, aquele que nos serve, nos mostra, nos faz sentir melhores ou uma merda. Aquele que nos muda. Neste filme, vi (mas não aprendi) que o amor pode ser mais, pode ir para além de, pode justificar tudo, e mover efectivamente montanhas. Sim, eu sei, situações extremas exacerbam tudo, até o que dizemos sentir. Mas fiquei com o desejo, não de viver uma situação extrema, mas de me agarrar à vida e aos que dela fazem parte (ainda que não me definam). Por isso, marcou. E ficou. O amor à vida, já aprendi, não é altruísta. Mas não é por si só egocêntrico. Só vale se coexistirmos, se tivermos a quem a contar.

Adaptation

É o filme mais genial que já vi. Gostava de o ter criado, de o ter concebido, de o ter pensado, de o ter escrito. Porque só uma mente brilhante (duas aliás) insere no filme o próprio acto criativo do filme. Porque é criação pura (e não reinvenção). Porque fala de fucked up people (and i love fucked up people). Porque as une. Porque as vive. Porque as respira. Porque as aceita sem senão. Porque as ama. Foi quando aprendi: you are what you love not what loves you. Vales pelo que sentes. Tudo tem o significado que escolhemos atribuir. Porque a vida são palavras e histórias. Criamos e destruímos, somos e deixamos de ser, inventamo-nos e repintamo-nos. Só porque sim. Porque a nossa vida é nossa. Pode parecer uma redundância, pleonasmo, whatever, mas não é tão simples quanto parece. É um caminho, e não é imediato. O sentir (e o saber) que a nossa vida é propriedade nossa, criação nossa, invenção nossa, reinvenção nossa não é imediato. Leva tempo. Leva quedas e hesitações. Mas quando surge, torna-se instintivo. Já não dá para viver de outra forma. Logo, mudou estranhamente a minha vida. Tornou-a minha.

Amelie

Obviamente mudou a minha vida. Porque transpira felicidade. Porque fez-me acreditar na possibilidade de mudar. Porque quem tem muito para dar acaba por trilhar caminho e mostrar o que vale. Porque é feito de momentos, aqueles que nos enchem. Como o exercício de pensarmos sobre o que nos faz feliz: atirar pedras no charco ou partir leite-creme queimado com a colher. Descobri que amo castanhas assadas bem salgadas, caminhar ao final da tarde com a minha música por companhia, ter o mar bem perto e poder ouvi-lo sempre que os meus pés o ditem, o meu t1, chá de frutos silvestres, filmes meus (e descobrir com quem os partilhar), finos no Rochedo, a casa da frente, conduzir de madrugada sem destino, descobrir a direcção certa sozinha (sem aqueles embaraços de perguntar à primeira pessoa que surge na estrada), tirar fotografias, guardá-las até amarelecerem e, quando as revisito, ainda as reconhecer como minhas, o teu cheiro quando te beijo o pescoço, perseguir-me e perder-me, fazer uma coisa que me assusta todos os dias, noites como a do bairro, o teu sorriso (aquele que me esqueci de apagar). E descobri que há sempre um sentido de possibilidade. Em tudo. Naquele quarto, com os beijos que a menina de vidro trocou, senti-me eu. E vi-te, como ainda te vejo, ali. Naquele momento do filme em que sabemos que, sem ele, as emoções de hoje não seriam mais que a recordação das emoções de outros tempos. Mudou-me, da mesma forma que tu me mudaste. E isso chega.


Faltam muitos outros (sim, porque esta escolha depende dos dias)

1 Comments:

At March 20, 2008 at 7:40:00 AM PDT , Blogger La fille said...

sim, com a amélie é óbvio o valor dos pequenos prazeres, descobri q sou feliz qdo deambulo sozinha por ruas cheias de gente, qd descubro coisas antigas (livros, postais já escritos, objectos já usados... quero uma máquina de escrever antiga! e um mini velho!), crio, desenho, fotografo e misturo tudo, leio o jornal de manha ou com companhia e discutimos o que s passa pagina a pagina, gosto de descascar laranjas mantendo a casca... gosto do do one thing that scares you, mas gosto tb dos meus dias sossegados, com pouca gente... lov u (a paola usa o TVTB)

 

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